terça-feira, 5 de março de 2013

Manifesto à sensibilidade

Já há algum tempo que ando impressionado, cismado… ontem numa praça, praça como outras do meu país, sofismada por acessos transversalmente invocados, quase deserta, talvez por causa do frio, o ar acusava níveis negativos confundindo uma tela apocalíptica, mosqueada no degelo do ozono. Já há mais tempo ando pessimista, e isto aconteceu-me logo à primeira vista, outros sensíveis como eu, também sentiram, quando no Mosteiro dos Jerónimos no ano de 1986 alguém decidiu, que passados nove séculos já não éramos capazes de continuar a segurar os nossos destinos.

Hoje, dia 2 de Março, ano 2013, olho o relógio situado na cúpula do edifício da câmara municipal do Porto, diz-me com o seu sereno e silencioso tic-tac imponente, mas também pessimista, apesar de nada ser com ele… e tem razão porque estávamos mesmo pessimistas, por ver à nossa volta um mar de gente, gente como eu, gente, gente que me fazia pensar no pensamento dele e deles; sofrimento de dor calada, indignação dum presente e um futuro pilhados de direitos, gente de presentes envenenados, gente silenciosamente de raiva acumulada… saber onde param os filhos, saber porque deram cabo do país dos seus filhos, dos avós, que os pais já sabem a sensibilidade sentida, igual à minha porque sou igual a eles, e, estava com eles.

O pior que pode acontecer, quando um presidente da república está mudo e surdo, um governo é vaiado de gatuno e faz do seu mandato um protectorado de invasores, é ficar em casa pantufadamente no sofá.

De dentro para fora, a badalada do sino do relógio, soava por entre milhares e milhares de cabeças, umas padecidamente indignadas, outras irritadamente revoltadas, era a última das primeiras, 18,30 como se fosse um magistral gesto de batuta do maestro Vitorino de Almeida!

Meio milhão de pessoas, crianças, novos e antigos, gerações com história, e outros, que ali estavam unidos pela mesma causa a mesma vontade de fazer uma nova história, uma nova revolução, um novo trabalho, uma nova educação, porque o pão continua a ser o mesmo, o nosso, pela fraternidade, solidariedade, independência.

Com a liberdade, embora ameaçada de inverdade, mas ainda de mãos dadas, o suficiente para estar ali, dizer o que cada um pensava à sua maneira, como nunca já se viu, em voz de ataque e garganta bem erguida, ao toque de caixa através do hino, Grândola Vila Morena! GATUNOS, GATUNOS, GATUNOS.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Liberdade

E os homens e as mulheres
Descem Avenida
De mãos dadas,
Descem e trazem nos dedos
A tinta de mãos abertas,
Promessas inchadas!

Corcundas, gritam: imbecis,
Idiotas, crápulas, agiotas…

Os homens e as mulheres
Sobem Avenida
De mãos separadas,
Sobem e levam nas mãos
Finas
Gretas de olhar coalhado,
A liberdade nas mãos levedadas.






segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Saudação

Hoje dia 31, último dia dos trezentos e sessenta e cinco, que constituem os doze inventados meses do ano de 2012.

Aqui espetado “verticalmente de pé” no meu exíguo espaço, apoiado no punho e na tinta da minha fugaz existência de ser vivo.

Pensante, venho como peregrino passante, endereçar o meu hilariante apelo a qualquer esteio com ou sem ramada: interiorizo através destas mudas palavras a estupidez irracional do homem neste mundo deslumbrante de raciocínio.

Para o visitar, lembrar, refletir e recomendar; não existe tamanho de vaidade que preencha uma simples reflexão de humildade. Não existe poder sem vontade do povo. Não existe povo sem legitimidade de poder.

Por isso, contemplo; “o poder está na ponta da espingarda” – Mao Tsé-tung. Beba um copo de três, seja consciente, convicto, a sua reflexão pode mudar o mundo para melhor.


Augusto Canetas


domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal!

Onde está a época; doce, primaveril,
Silenciosamente inocente?
Como sabe bem esta fragrância
Tangente
No vazio do quanto ainda somos ou não;
Crianças!
Sentir a memória, plangente,
Mas que toque, que fira
Esta coisa que vai deixando de ser,
Mas que ainda persiste…
Seja a inocência a inteligência dos homens.











sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Uma Sopa

Tal-qual primeiro-ministro
magistral!
"VOCÊ" sabe
quanto custa uma sopa?
Se soubesse,
o povo
tratava-o por Senhor intemporal...









quarta-feira, 23 de maio de 2012

No meu espírito

Só, como se não existisse, uma voz angustiada do tempo, chamava por mim. Passavam duas horas e quinze minutos das zero, o silêncio adormeceu no sossego da noite, que assim quis, por ficar no lado opaco à luz do dia. Todavia, até então, apenas o tique-taque na gravidade do teclado do meu computador, aceitava a sua ordenação de registar as palavras do meu pensamento, enquanto entendia o acompanhar da rotação da órbita da terra... (A continuação na pag. 42, Verticalmente de Pé)