domingo, 22 de janeiro de 2012

Condenação

Reunida no passado pôr-do-sol
E noite de lua cheia,
O Conselho do Povo, no limiar da pobreza,
Em tertúlia trabalheira,
Democraticamente eleita e de mão no ar,
Determinou sem pena suspensa, ou recurso,
E mandou publicar:


A condenação a 30 anos de trabalhos
Em sacrifícios de apeneia
O Simbólico Aníbal e o Presidente da Republica
Pelo seu subsequente ar escapatório de toupeira.


Ignomínia, omissão e insensibilidade
A quem lhe deu o crédito;
O povo.
Pelo excesso e conivente desrespeito
Pelo soldo que recebe;
Do povo.
Pelo desprezo provocatório e desiludo
Aos sacrifícios acatados;
Do povo.
Pela incompetência e inoperância que tem
Aprovado, os destinos do país;  
Do povo.

E ainda, devido às circunstâncias
Atuais de água e pão…   
Realizar certas instâncias
À reforma
Da sua concubina, a bem da meditação!





sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Apelo

Vou recitar uma arma
de gesso e de lama,
numa corrente de água morna
e embute de sorna,
para então dizer ao mundo
reaccionário e estúpido,
que tudo acaba
quando o sono acorda!

Vou acordar seca a garganta
de palavras:
gotas de pus
que a liberdade inventou
amolecer gritos de corpos nus
num mundo silenciosamente
assanhado e sinistro...
onde só os bichos entendem,
que as pedras são como são...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Descarnada

Descarnados, os ossos mostram a realidade
Disfarçada,
Enquanto o cetim carcomido
Segura a reminiscência,
Incansável dos números
Dum curvado chão compungido.


Mil quatrocentos e quarenta minutos,
Vinte e quatro horas,
Por dia.


Dez mil e oitenta minutos,
Cento e sessenta e oito horas,
Por semana.


Quarenta e três mil minutos,
Setecentas e vinte horas,
Por mês.


Quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos,
Oito mil setecentas e sessenta horas,
Por ano.


Quarenta e oito milhões,
Oitocentos e oitenta mil e oitocentos minutos,
Oitocentas e catorze mil seiscentas e oitenta horas,
Por noventa e três anos.


Entre o céu, o inferno e o paraíso, arreda percorrida!
Ocorrência de ter nascido nua e ter morrido vestida.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Intelectuais

Onde estão os intelectuais?
Será que ainda existem mentes
Cerebrais?
Mentes antagónicas,
Inconformadas, pensamentos verticais?


A vós nomeados intelectuais
Das crónicas domésticas
Dos jornais,
Redigidas dos sofás, das pantufas
E dos cristais,
Cómodas poltronas,
Sedentários observadores serviçais!


Os povos estão desconvocados,
Desgovernados e desamparados,
Padecem de fome e sede
Pelos caminhos
E sem nome morrem como animais!


Editai vossos laços
Nas ruas, nas praças, nas varandas…
Editai as mãos o pensamento
De Norte a Sul vazias gargantas
Onde todos são a debilidade,
O impedimento do ser ou não ser
A exactidão do direito e da liberdade.


A vós que julgais ser o sabão das mãos limpas,
As ruas esperam pelo expurgo do vosso saber,
E o povo agradece com iluminadas lamparinas,
O que a história nos deixou por entender.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Maquiavélica comunicação!...

Secretas ou comunicação à lupa
De quem é quem…
Quem está doido por saber quem;
O estado ou a confeitaria dos pastéis
De Belém?
Quem é quem,
Na contrafacção dividida do poder;
O arcebispo, o primeiro-ministro,
O trabalhador, o presidente
Ou o papa com desdém?
Quem é quem,
A molaflex dum gemido colchão
Ou a concepção dum estado de ninguém?
Que rumo segura esta independência
E quem é quem o meu país
Na modorra chefia desta lide?
Um negócio de influências?
Uma mentirosa política, ou uma nova PIDE?

sábado, 3 de setembro de 2011

Olá Portugal!

Olá Portugal, como vais?
Ouvi dizer que te estão a roer os pilares
Que andas deprimido
E sem sal,
Que nada aprendeste com Mário Soares
E muito menos com Álvaro Cunhal?!...


Olá Portugal,como vais?
Ouvi dizer que lenhaste a insígnia heróica
E que te apartaram a mordomia
E o gozo
Por causa dos teus amigos da Troica
E o abandono patriótico do aliado Durão Barroso?!...




Olá Portugal, como vais?
Ouvi dizer que persistes
Obstinadamente adiado
Imaculadamente afinco aos três “FFF”;
Futebol, Fátima e Fado
E de colonizador passaste a colonizado?!...




Ó minha Pátria, terra de pão e água levada,
Sangue, sustento erguido de suor,
Que nem sede de esperança
Nem vida por nascer
Deixaste do Natal a minha saudade
A paixão e o amor de mãe por entender.




Ó Portugal converto, porque te exilas
Do silêncio agudo da tua voz?
Liberta-te do silêncio surdo
Que te inquieta
E luta ousado pela palavra certa
Sobre as campas do sangue dos teus avós.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nódoas

Quem escuta quem?
Quem manda quem?
Quem tem o fio da navalha?
O senhor ministro?
O Papa?
O Taxista?
O Evaristo?
Ou é um grito do Nirvana!...

Quem divulga quem?
Quem determina quem?
Uma inglória vã de viver?
Uma boca da Somália?
Um feto da Nigéria?
Uma placenta do Quénia?
Num saco de Karmas
Que pula e salta aos gritos
Numa euforia de malária,
De fome e de morte,
Por causa dos proveitos das armas?!...

Quem guarda quem?
Quem partilha quem?
As molas do colchão
Do segundo andar
Escutadas pelo vizinho
Do rés-do-chão?!...
Ou sou eu
Que estou a sonhar
Que tenho a sensação
Que me estão a escutar a matar?!...